sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

asquerosa, à que se erguia, rebrilhando, em altos adejos, como se pretendesse romper a eterna submissão.
     Ao enxergar a abelha, quisera salvá-la, capturando-a para a devolver à vida e à liberdade, no Funchal. O estojo do perfume surgira como um recurso. Abrira-o, tirara-lhe o frasco e, devagarinho, colocara a sua parte inferior sobre ela, esperando que, ao sentir-se presa, se agarrase ao cartão. Não acontecera, porém, assim. Logo que ele retirara a caixa, a abelha voejara, sem rumo, pousa aqui, pousa ali, até se quedar numa das vigas do tecto. Beliche acima, distendendo os braços, perseguiu-a. Os esforços perdiam-se inutilmente. Ela fugia-lhe sempre, como se recusasse a vida que ele lhe oferecia e, contudo, fugia-lhe para viver. Ele encontrava-se já cansado e sem

Ferreira de Castro, Eternidade (1933), 14.ª edição, Lisboa, Guimarães Editores, 1989, p. 25, ls. 1-12.

Sem comentários: